quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Para quem não quer crescer
Ilustração de Carla pott


Por razões que eu própria desconheço, sempre adorei tudo o que tivesse a ver com desenho.
Recordo-me da minha infancia e dos dias que passava sozinha inteiramente à volta de lápis e canetas e isso me bastava. O meu mundo resumia-se a riscar. Não era muito eclética, verdade seja dita. Gostava de desenhar meninas, nunca rapazes. Gostava de imaginar vestidos e cenários. Desenhava-as sempre de perfil.

Se pudesse escolher um momento da minha vida em que nada mais precisava para representar um sentimento de felicidade plena, seria um dos que passava no escritório, sozinha, a imaginar pessoas e conversas.

Creio que foram dos momentos de felicidade mais puros que tive.

Hoje não desenho nem pinto nada para além de alçados, cortes, perspectivas no computador. Hoje, se tivesse que fazer um quadro não sei sequer o que faria.

Há tempos, tentei ilustrar uma história da M. e ainda criei umas personagens mas nunca acabei. E ela detesta esse meu lado fraco e inseguro de quem olha para o que faz e nunca gosta, que falta sempre um bocadinho, que poderia ter feito muito melhor.

E eu ainda detesto mais.

Se existe uma criança dentro de nós, dizem, a minha ficou parada à espera do desenho perfeito que nunca tive coragem de começar.

Resta-me acreditar que um dia vou voltar a ser a menina (não tímida como era, que se escondia de tudo e todos) perdida nos afazeres das suas personagens. Não tenho saudades da minha infancia, não tenho saudades do medo. Mas sinto falta de me sentir criança.


1 comentário:

  1. nesta vida ou se fala ou se age.
    estás à espera de quê? aposto contigo de que ainda te vais surpreender no dia em que deixares os medos de lado e faças simplesmente o que te der na real gana: e ainda vai haver quem adore os resultados e se inspire por eles. é só queres, falares menos e desenhares mais. medo do quê afinal? tu és maravilhosa e se isso te faz tão feliz sê a criança que desenha rabiscos, faz bem ao teu ego e quiçá aos nosso egos também!
    M.

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